quinta-feira, 17 de abril de 2014

Erik passa bem após retirada do cateter

Erik mandando um beijo por todos que rezaram por ele nessa noite passada. A cirurgia foi um sucesso e ele já está sem o cateter. Agora é monitorar a infecção e esperar pela alta. Obrigada! Aliás, preciso registrar também o meu agradecimento à equipe de cirurgia pediátrica do INCA: jamais duvidei da qualidade do trabalho desses médicos, e por causa dessa qualidade e experiência dos profissionais que aqui nos atendem é que escolhemos o INCA para tratar do nosso filho, mesmo tendo alternativas. Toda a nossa crítica é ao sistema de saúde brasileiro, burocrático e arrastado, e à falta de contratação de profissionais qualificados que se unam à luta contra o câncer. Os quadros existentes são excelentes, porém insuficientes diante da demanda, e é o Ministério da Saúde quem precisa agir rapidamente para alterar essa situação. É importante registrar que o INCA trabalha no seu limite - limite de estrutura, limite de pessoal. São muitos plantões dobrados, a equipe anda esgotada. O câncer campeia solto, como se diz no sul... e cada vez mais atinge nossas crianças. Há que se redobrar os esforços para enfrenta-lo, há que se formar mais gente, há que se pagar salários dignos, há que se dar estrutura, equipamentos, salas adequadas!

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Semente de escândalo no INCA

A piada é a seguinte: tente marcar no INCA a retirada do cateter do seu filhinho de 2 anos e meio, que já carrega essa bomba relógio no braço há quase um ano, e a resposta será: só tem vaga para 01/07! Para fazer a consulta com o cirurgião, para que ele, avaliando o caso, agende o centro cirúrgico, o que pode levar outros 2 meses...

Deixe-me explicar aos leigos: o cateter é uma espécie de canudo que é implantado no braço da criança e leva a medicação por uma veia de alto calibre diretamente ao coração. É uma grande invenção e foi muiiiito útil durante todo o tratamento, evitando que ele fosse furado a cada medicação, a cada coleta de sangue, e também protegendo assim as veias de baixo calibre, que não suportam a quimioterapia. Porém, o cateter é uma bomba relógio, como falei, porque se entra por ali alguma bactéria oportunista, essa também é levada diretamente ao coração e espalhada em minutos por toda a corrente sanguínea, podendo provocar, por exemplo, uma bacteremia e uma alta chance de óbito em poucas horas. Uma vez não mais necessário para o tratamento, o cateter deve ser retirado com o máximo de urgência, evitando esse potencial efeito colateral.

COMO PODE SÓ TER VAGA PARA DAQUI A 80 DIAS?! A retirada é um procedimento simples, leva minutos. Não fosse o Erik um bebê, poderia ser retirado até no ambulatório, com anestesia local. Mas, no caso dele, é necessária mais uma anestesia geral... É inacreditável que, mesmo depois da portaria que obriga o início do tratamento em no máximo 60 dias esses disparates continuem a ocorrer ( http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/agencianoticias/site/home/noticias/2013/tempo_de_espera_nao_pode_ultrapassar_sessenta dias ).

Entendam: FALTAM PROFISSIONAIS qualificados nos quadros do INCA. Abriu-se concurso para 580 vagas, aproximadamente, mas isso apenas REPÕE os profissionais perdidos com o fim do último contrato com a Fundação do Câncer, não chega a aumentar os quadros para atender à demanda crescente dos casos de câncer, inclusive entre crianças. Faltam enfermeiros, técnicos, médicos, leitos. Os que trabalham são esgoelados. A conquista das 30 horas como jornada máxima para os enfermeiros foi aprovada em todos os hospitais, MENOS PARA O INCA. A razão provável é a falta de profissionais para cobrir essas 10 horas a menos. Afinal, quem quer trabalhar com câncer? Quem quer trabalhar com câncer infantil? Faltam candidatos qualificados. Falta treinamento. FALTA! Faltam políticas públicas, falta disposição do governo para resolver.

Hoje tentei marcar a manutenção do cateter do Erik, visto que ele ainda não foi retirado. Essa manutenção deve ser semanal, até a sua retirada. No entanto, só tem vaga para dia 25/04 à tarde. Ele fez a última dia 10/04. Ao fazer a nova manutenção, estará há duas semanas sem injetar heparina no cateter, o que aumenta substancialmente as chances do cateter entupir, e de uma bactéria se instalar... O ambulatório do cateter, no INCA, funciona só pela manhã na maioria dos dias. Uma enfermeira se aposentou, 30 anos de casa, e eles estão com falta de pessoal.

E é assim, minha gente, que os escândalos se criam. Depois morre uma criança por causa de uma coisa assim - DEPOIS DE VENCER O CÂNCER, MORRE DE INFECÇÃO - e ninguém quer assumir a culpa! Por favor, eu e o Edson Erdmann, meu marido, pai do Erik, depois de todo o sufoco que passamos juntos ao tratarmos do Erik no Rio e colocarmos o evento de reinauguração do Beira Rio em Porto Alegre em pé, peço que repassem. Esse ano que passou foi muito duro. Tínhamos em mãos o trabalho da nossa vida, e ao mesmo tempo, a vida do nosso filho em jogo. Conseguimos, mas Deus sabe o sacrifício que foi.

Não é pelo Erik. O Erik nós vamos resolver, nem que seja num hospital particular, no Rio ou em Porto Alegre. Felizmente temos essa alternativa, embora seja direito dele, como qualquer brasileiro, ser atendido no hospital referência do câncer, que ajudo a sustentar, há 40 anos pagando uma das maiores cargas tributárias do mundo. Mas é por todos que estão lá, passivamente e sem voz, aguardando a sua vez, resignados nas salas de espera, nas filas. Vejo isso todos os dias. E é INACEITÁVEL. Divulgue-se!